A Minas Gerais do século XVII

Nos últimos anos do século XVII, quando foram descobertas as primeiras jazidas de ouro em nosso território, a denominação era somente “as minas” ou comumente o pessoal que residia aqui era chamado de “morador de minas”.


Alguns escritores denominavam nossa região como região dos Cataguás, por causa dos índios e houve então, a expressão “Minas Gerais dos Cataguás”. Depois a denominação passou a ser “Minas Gerais do Rio das Velhas”. Em 1709 foi criada a Capitania de São Paulo e Minas do Ouro.


Estudando o roteiro descrito pelo historiador Antonil, e com o auxílio de outros documentos, poderemos, sem dificuldades, traçar o roteiro do “Caminho Velho”.


O Caminho Velho a princípio era uma trilha feita pelos índios e acompanhado pelos sertanistas desde a época do descobrimento do Brasil. Do Rio de Janeiro iam os viajantes, por mar até Parati e daí por terra até encontrar o caminho que vinha de São Paulo e esta junção se fazia em Taubaté. Fundindo os dois caminhos num só, seguia para Minas atravessando a Serra da Mantiqueira na garganta do Embaú, onde surgiram posteriormente as cidades de Passa Quatro, Ibituruna. Seguia a travessia do Rio Grande, Rio das Mortes (São João Del’ Rei). Na serra do Itatiaia, o caminho se bifurcava, um seguia para Ribeirão do Carmo (Mariana) e Ouro Preto, o outro se dirigia às Minas do Rio das Velhas, Raposos, Honório Bicalho e Sabará. Este caminho era o único que havia para as minas de todas as povoações do Sul. Minas Gerais naquela época era somente esta região e estes caminhos, notadamente, margeavam os rios, pois as montanhas eram difíceis de se transporem. Depois, feito alguns atalhos, Domingos Rodrigues da Fonseca Leme fez o chamado “Caminho Novo” que era mais curto, porém mais íngreme e de difícil trânsito, por isso era pouco usado. Este caminho mais tarde foi chamado de “Caminho Real”, onde Tiradentes andou pregando suas idéias de libertação e de onde saía todo o ouro de Minas Gerais, ou seja: Ouro Preto, Itabirito, Mariana, Raposos, Sabará, Nova Lima e Caeté; até o Rio de Janeiro que era a sede da colônia.


Em 1710, o religioso Frei Francisco de Menezes veio como procurador dos moradores das “Minas Gerais do Nascente” e do Poente do Rio das Velhas.


Na barra do Rio das Velhas (antes chamado de Rio Guacuy) este rio era atravessado por um caminho um pouco acima de sua embocadura seguindo pela margem esquerda, passando por Fidalgo, Santa Luzia, Sabará, Raposos e Roças Grandes que era chamado de “Arraial do Borba” até 1700.


Durante o século XVIII, outros caminhos foram surgindo, inclusive um que de dirigia a Paracatu e passava por Raposos, Sabará e Lagoa Santa.


Devido à imprecisão cronológica que envolve os primeiros achados auríferos de Minas, não se pode, até hoje, apurar a quem coube atribuir a primazia das riquíssimas jazidas auríferas do espinhaço das Minas Gerais dos Cataguás pela ocorrência de datas indeterminadas.


Segundo o historiador Pedro Taques, em abril de 1695, lavrava Garcia Rodrigues Pais faisqueiras de ouro aluvial, no Sertão de Sabarabuçu. Orville Derby descobriu uma carta de um certo Bento Correia, datada de 29 de julho de 1694, do Rio de Janeiro, relativa à chegada, a esta cidade, do Padre João de Faria Fialho e diversos parentes seus, noticiando a existência de minas que havia descoberto nesta região.


A 16 de junho de 1696 escreveu o governador fluminense Sebastião de Castro Caldas a D. Pedro II falando-lhe da descoberta de ouro no sertão de Taubaté.


Documento anônimo das primeiras décadas setecentistas inseridos no código Costa Matoso afirma que em 1697 ou 1698, tornou-se público universalmente, que os paulistas haviam descoberto muito ouro no sertão que eles chamavam de Cataguás. Depoimento de Bento Fernandes Furtado de Mendonça (1690/1695), um dos primeiros colonizadores do território aurífero e filho de Salvador Fernandes noticia o fato. Paralelamente a estas notícias ocorre outro depoimento valioso do Padre Diogo Soares que relata que o mestre de campo José Rebelo Perdigão, secretário do Capitão General Arthur de Sá e Menezes afirma categórico, que o primeiro ouro das Minas Gerais foi encontrado em 1693 por Antônio Roiz de Arzão. Pensam alguns autores que tal ouro procedesse da região do Rio das Velhas, Raposos, Caeté ou Sabará.


“Morreu muita gente naquele tempo, de doenças e necessidades e outros que matavam para os roubar, na volta do garimpo e ainda os que iam juntos para fazer negócios”, conforme escrevem com rude linguagem, os cronistas do tempo, testemunhas oculares de tais acontecimentos.


Começaram a aparecer os primeiros criadores de gado vindos da Bahia, abrindo picada e trazendo os primeiros gados para as Minas e o grande preço por que vendiam a cabeça de gado era meia libra de ouro (230g) naquele tempo o preço os animava. E realmente era o boi vendido por 64 oitavas ou 96 mil réis quando lá na Bahia era comprado este mesmo boi por quatro mil réis.


Outras zonas grandemente rendosas não tardariam a ser exploradas como narra Bento Fernandes. A ambição gerou o assassinato do Fidalgo D. Rodrigo Castel Blanco e longo tempo que Manoel de Borba Gato ficou escondido no sertão das Minas até revelar sua localização e obter o perdão do Governador Arthur de Sá Menezes em troca do “manifesto da localização de minas de ouro de tal grandeza que serviriam de grande aumento à Coroa Portuguesa para rendimento dos quintos reais. Anistiado, Borba Gato cumprira a promessa, pois dentro de breve e do local por ele revelado, saíram arrobas e mais arrobas de ouro.


O escritor Antonil, com esclarecimentos geográficos compatíveis com a época, descreveu os três itinerários principais que de São Paulo, do Rio de Janeiro e da cidade de Salvador davam acesso às Minas Gerais. De São Paulo a Ouro Preto havia dois meses de marcha pelo vale do Paraíba, a garganta do Embaú, os vales do Rio das Mortes e do Rio das Velhas.


Os arraias e as primeiras vilas de Minas foram surgindo ao longo desses rios, como nos mostram os mapas anexos. Ao longo do Rio das Mortes surgiram povoados bem antigos como: Ibituruna, Lagoa Dourada, Prados Tiradentes e São João Del Rei, o segundo caminho da colonização de Minas é, sem dúvida, o caminho do Rio das Velhas.


Ao longo do Rio das Velhas surgiram: Lagoa Santa, Santa Luzia, Sabará, Raposos, Rio Acima e os distritos de São Bartolomeu, Honório Bicalho, Santa Rita, Morro de São Vicente, Passagem de Mariana. Esta última de onde veio a companhia de mesmo nome que “comprou” a mina do Espírito Santo e vendeu mais tarde a Sant John Del Rey Gold Mining Company Ltda. À esquerda da nascente, temos Itabirito, Ouro Preto, Cachoeira do Campo e à direita Mariana que eram chamadas de nascentes do Rio das Velhas. Descendo este rio, mais abaixo, temos as localidades de Honório Bicalho, Raposos, Sabará e ligada por um outro afluente está Caeté.

Comumente citado por vários historiadores como Arraial do Rio das Velhas, pois sua posição geográfica é citada como acima de Sabará, abaixo de Caeté esta localidade é citada não se referindo a um rio, mas sim a uma localidade muito antiga antes do ano de 1700 é citada, acima de Arraial Velho (Sabará), e abaixo uma localidade chamada de Gaya (hoje Honório Bicalho) e abaixo de Congonhas do Sabará (hoje Nova Lima).


Além do “Caminho do Ouro”, também designado com freqüência com Estrada Real, de onde saía o Ouro de Minas, Ouro Preto, Mariana, Itabirito, Honório Bicalho, Raposos, Sabará, Caeté, levado até o Rio de Janeiro, outros caminhos foram surgindo inclusive um que se dirigia a Paracatu, passando por Raposos, Sabará e Lagoa Santa.


Uma lei mineira de 1º de abril de 1835 determinava a construção de 4 estradas para que as cidades e vilas se comunicassem com a capital do Império. Além das estradas de rodagem ou de carros-de-boi, começaram a surgir as ferrovias, dentre elas, as pioneiras foram, no tempo do Império, a ESTRADA DE FERRO D. PEDRO II com início em 1856, na qual vemos esta inscrição em Raposos no Pontilhão sobre o Rio das Velhas, no bairro Ponte de Ferro, ao lado do posto de gasolina.


Outra lápide que confirma a construção desta ferrovia está colocada em Petrópolis e traz os seguintes dizeres: “Sob a muito alta proteção de S. M. o senhor D. Pedro II, na augusta presença do mesmo senhor e de S. M. a Imperatriz, a Companhia União e Indústria começou a construir esta estrada no dia 12 de abril de 1856.


A época das estradas de ferro veio trazer novo alento às regiões por elas beneficiadas. Em 1º de maio de 1869, eram assentados os primeiros trilhos em Minas da E. F. D. Pedro II, onde consta o trecho Ouro Preto – Raposos – Sabará. À solenidade compareceram altas autoridades da província e do Império, e foram construídos diversos ramais.



Referências bibliográficas

GOMES, João Oliveira – Memórias do Povo de Raposos – Editora Lê – Belo Horizonte, 1996. Parâmetros Curriculares Nacionais (História) – Ministério da Educação.

Site Raposos: www.raposos.com.br - Acessado em 17 de outubro de 2006.

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