Lembranças do raposense

Cresci num tempo em que esperteza era falar que ia à Missa e na verdade o destino era uma conversa e outra na frente do Cine Soaral.

Cresci num tempo em que ostentação era contar os dias da semana para que no sábado fosse no Estrela ou Ideal ver Sete Irmãos.

Cresci num tempo em que ter uma mochila e kichute para ir à aula era a maior alegria que um estudante podia ter.

Cresci num tempo em que a loja do Nezinho era o shopping e o Jequiri era o Carrefour.

Cresci num tempo em que vibrar com o futebol era estar domingo a tarde no Estrela, Ideal ou União envergando a camisa do seu time querido.

Cresci num tempo em que viagem era andar de subúrbio daqui até BH sem reclamar do tempo que se gastava e apenas apreciando as belezas dos locais.

Cresci num tempo em que Raposos era tratada como Moscou por seus vizinhos e isso era motivo de extremo orgulho.

Cresci num tempo em que foto era revelada, história era contada, música era cantada e lembrança nos alegrava.

Comentários

  1. https://pt-br.facebook.com/pages/A-Banqueta-de-Not%25C3%25ADcias/569505626393453

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  2. Uma cidade que nunca será “apenas um quadro na parede”, como a Itabira do poeta Carlos Drumond de Andrade, mas que “ainda dói”, para o historiador Jurandir Persichini. É esse o clima saudoso da entrevista feita com o pesquisador, jornalista, ex-diretor do Estado de Minas e TV Alterosa e, atualmente, integrante da Controladoria Geral do Estado. Persichini, durante o período em que foi preso por comunismo decidiu - debaixo do pau-de-arara e após sentar-se na cadeira do dragão (usada para eletrocutar torturados) - pesquisar a fundo a história de Raposos e guardar sua memória. Na investida, Persichini comprovou o valor histórico da Igreja de Nossa Senhora da Conceição e a revelou como a primeira Matriz de Minas Gerais. Esse é o entrevistado especial do A Banqueta, que nesta semana homenageia Raposos por seu aniversário e abre seu baú de documentos para contar fatos históricos da cidade.

    Raposos para sempre
    A cidade já nasceu Raposos, conservando o mesmo nome desde quando era arraial, o qual, fundado no final do século XVII, comemora na próxima semana, dia 16 de fevereiro, 324 anos de história. A cidade das jovens mulheres viúvas, esposas de operários da mina; terra de clima ameno, do qual as manhãs são feitas de neblina pura e branca, derramada entre as montanhas. Matas, reservas florestais, trilhas ecológicas consagradas como as melhores, poços, lagoas, ribeirões e o ilustre Rio das Velhas também são Raposos; a casa de uma gente simples e faceira, que dança congado, Folia de Reis, Carnaval, Cavalhadas e Quermesses.
    Essa história, que se formou naturalmente bela, teve início quando o Governador da Capitania do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, Artur de Sá Menezes, veio desbravar, nas imediações dos Cataguás, uma terra que escondesse ouro. A expedição do governador contou com a determinação de Pedro de Morais Raposo, um bandeirante disposto a enfrentar os perigos dessa empreitada. Consigo, Raposo levou a família, irmãos, amigos e escravos no rastro de bandeirantes como Paes Leme, Borba Gato, dessa forma, encontrou o lugar de sua procura, uma terra que herdou seu nome, produziu incontável ouro e serviu de celeiro para diversas cidades.

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  3. Continução...
    Raposos abriga a primeira Matriz do estado
    A fé acompanhou o nascimento dos arraiais e com Raposos não foi diferente. O A Banqueta teve acesso ao Jornal Estado de Minas do ano de 1972, o qual divulgou uma matéria extensa sobre a cidade de Raposos. No título a informação, “A primeira igreja de Minas Gerais está morrendo em Raposos”. No texto, a pesquisa de Persichini desvenda e coloca para sempre na história do estado, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição como a primeira Matriz de Minas Gerais.
    Celeiro da região, Raposos alimentou os arraiais
    Na época em que a corrida pelo ouro tomava conta do interior do Brasil e muitas delas fizeram guerrilha pelo domínio da mineração, Raposos garantiu a subsistência das regiões próximas, pois era a principal produtora de alimento para cidades como Caeté, Nova Lima, Rio Acima e Sabará. O sucesso das roças de milho, mandioca, feijão, arroz e cana-de-açúcar, viabilizaram a existência de fábricas de farinha, industrialização da rapadura e da produção de cachaça, sendo que Raposos se tornou famosa pela cachaça.
    Conhecida pela qualidade do ouro
    A chegada dos ingleses à região para operar a mina de ouro, por volta de 1832, marcou a história Raposos, e, apesar de a planta industrial da mineradora ter sido implantada na cidade vizinha, Nova Lima, a mina localizada em Raposos, na Serra do Espírito Santo, se tornou famosa por causa da qualidade do ouro encontrado nela. Em Nova Lima foram instalados todos os equipamentos de fundição de ouro, no entanto, o minério, dotado do melhor teor aurífero, era extraído da mina do Espírito Santo e levado de teleférico pelas montanhas.
    História do apelido
    Por causa das contradições do sistema em que os moradores de Raposos eram submetidos, a população basicamente composta por operários das Minas da Morro Velho, sentia-se injustiçada pela falta de condições sanitárias e trabalhistas, inexistência de recursos de infraestrutura para a sobrevivência das famílias, as quais viviam em moradias impróprias às suas necessidades, sendo obrigadas a morar em casas de bom serás - residências específicas para solteiros (típicas dos bairros Várzea do Sítio e Barracão Amarelo). Lazer, oportunidade de estudo e atenção à saúde não eram oferecidos aos raposenses satisfatoriamente.
    Da indignação nasceram então, os grupos comunistas e a cidade foi apelidada de Moscou e os comunistas de Moscouvitas. Com o passar do tempo, o apelido expandiu para toda população de Raposos e tomou um significado pejorativo, sendo que os moradores passaram a se sentir ofendidos por esse apelido.

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  4. Era uma vez um bondinho
    O bondinho da Mineração Morro Velho, inaugurado em 1913, percorria o trecho de Raposos à Nova Lima e fazia o transporte dos moradores de Raposos que estudavam e trabalhavam em Nova Lima. Durante a viagem, feita a 20 Km/h, os passageiros aproveitavam a vista magnífica registrada em fotos históricas que revelam uma peculiaridade, a curta largura dos vagões que, de tão pequenos, deixavam parte do corpo dos passageiros para fora do transporte. Além do transporte de pessoas e operários, o bondinho servia de transporte de ouro, mas com o tempo perdeu essa utilidade e se tornou inviável para a Morro Velho, sua proprietária. Em 1970, sob protestos, o bondinho foi desativado.

    Ideal e Estrela, diversão certa e rivalidade sem trégua
    Raposos não viveu apenas militância por dias melhores, nem foi tão somente casa de operários. A cidade, desde sempre, soube fazer festa e comemorou intensamente por meio das quermesses e manifestações folclóricas do Congado e Cavalhada. No início da década, os clubes sociais movimentaram o ramo do entretenimento na cidade, unindo o povo em torno dos bailes e os dividindo pela rivalidade entre os sócios. Com essas características nasceram os clubes Estrela e Ideal; onde no início, quem frequentava uma sede, não podia visitar a outra.

    A rivalidade entre os clubes era tão intensa que, partida de futebol entre o Ideal e o Estrela era mais vibrante do que jogo da Seleção Brasileira. As mulheres das torcidas brigavam a base de sombrinhadas, e os atletas em campo disputavam o gol com tanta força que pareciam defender, além da honra, um país em guerra.

    Olhar arrebatador, a chave para derreter o coração inteiro em um flerte
    Footing, esse era o lugar para quem desejava encontrar seu par perfeito. Na ponte de Raposos, encostados no corrimão, os rapazes da cidade esperavam até que pudessem avistar uma garota interessante para quem pudessem lançar um olhar conquistador. Já sabendo do costume, as moças viviam a atravessar a ponte, o famoso footing, palco do início de inúmeros romances. Caso a investida do rapaz fosse bem recebida pela jovem, ele se aproximava para tentar uma conversa. Mas, como nos dias de hoje, se a moça fosse muito desinibida e retribuísse o olhar através de uma “piscadinha”, o rapaz logo perdia o interesse.

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